sábado, 31 de janeiro de 2009

Entrevista com DORA INCONTRI concedida a revista O MENSAGEIRO

DORA INCONTRI – A jornalista e escritora Dora Incontri que lançou no final de 1996 o livro Pestalozzi, Educação e Ética. Incontri cursou o doutorado na Universidade de São Paulo - USP com o tema "Pedagogia Espírita", é autora dos livros: Educação na Nova Era e Estação Terra, além de livros de poesias. Dora também ministra o curso de Pedagogia Espírita, na Feesp.

P: – Qual é a relação entre a Doutrina Espírita e a Pedagogia?R: - A própria Doutrina Espírita é uma proposta pedagógica de Educação proposta pedagógica de Educação do Espírito. Kardec foi educador, não por acaso. Herdeiro de uma tradição pedagógica, recebida das mãos de Pestalozzi, seu mestre,. Que vinha desde Sócrates, foi com essa visão de educador que codificou o Espiritismo. Nada mais óbvia portanto a contribuição que a Doutrina pode dar para o campo específico pode dar para o campo específico da pedagogia, com uma visão reencarnacionista do homem.


P: - Quais são os princípios fundamentais da Educação Espírita?R: - Educação pela liberdade, Educação pela Ação e Educação pelo Amor.Esses são os três parâmetros principais da Educação Espírita. Reconhecendo que o Espírito é o ser livre, que só evolui pelas experiências concretas que realizam nas sucessivas encarnações e que o método empregado pela Providência Divina para despertar a liberdade da ação para o Bem é o método do amor, então podemos dizer que esses três princípios devem orientar qualquer prática pedagógica terrena. Trata-se de aplicar a Pedagogia Divina.

P: - Como aplicar estes princípios no processo educativo na Família, na Escola formal e na transmissão de conteúdo doutrinário no Centro Espírita?R: - Em qualquer processo pedagógico, é preciso, primeiro que entre educador e educando se estabeleça um forte vínculo afetivo. Segundo, que o educando possa agir por si mesmo, pra construir suas virtudes e seus conhecimentos. Ninguém aprende nada de ouvir falar, mas a prática. Terceiro, que cada educando seja respeitado em sua individualidade e tratado como uma consciência livre, dono de seu destino espiritual e responsável por si. O educando pode estar criança, adolescente ou jovem, mas é um Espírito antigo e imortal, herdeiro de si mesmo.
Esses princípios podem ser aplicados tanto na família, como na escola, como no centro, desde que promovamos uma Educação pelo diálogo amoroso, pela ação participativa do educando e não por uma Educação modelada na obediência passiva.

P: - Você considera que os princípios da Educação Espírita poderiam ser aplicados ,nos trabalhos de Evangelização da criança, do jovem e do adulto nas Casas Espíritas?R: - Não apenas poderiam, como deveriam. Fica claro isto pela resposta anterior. O indivíduo, no centro espírita, deveria ser tratado de maneira menos paternalista. Deveria ser ouvido, ter estímulo à participação, à interação livres. Hoje, na maioria dos centros, há uma situação semelhante à da Igreja: alguns falam, o resto escuta passivamente, dizendo assim seja no final. As crianças também devem participar, serem ouvidas. Apenas através de debates, estudos e pesquisas que a convicção espírita pode ter consciência.
Senão, ela não passará de uma catequese.

P: - Na sua opinião o emprego da arte e o uso de exemplos cotidianos (fatos familiares, acontecimentos sociais, etc) na Evangelização podem contribuir com o processo de formação do educando?R: - Todos os recursos devem ser usados. Mas sobretudo o recurso de saber qual o interesse do educando, quais as suas dúvidas, as suas cogitações, pois a partir desse fio, é possível construir o processo do conhecimento.

P: – Quais as suas sugestões para os educadores em geral, quanto à utilização destes recursos na educação formal?R: - É preciso mudar radicalmente a educação formal. Abolir a sala de aula tradicional, com mesas e carteiras enfileiradas, que já predispõem a uma instrução passiva; acabar com as aulas fragmentadas de 50 minutos, com os currículos obrigatórios e as programações rígidas.

A escola precisa de uma cara nova.
Um ambiente de natureza, de estímulo social e cultural, de uma ação mais livre e mais vital. Não adianta pôr remendo novo em pano velho.
É o que dizia Jesus. Coisa perfeitamente aplicável à necessidade de mudança na Educação.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Tua vontade comanda teu ser

Se aprendes a escolher perceberás que é a tua vontade que cria o teu estado interno e externo. Se estiveres consciente disso, usarás tua vontade a favor de ti mesmo, pois ela tem o poder de restaurar-te em segundos, se assim permitires; mas, também, pode destruir-te, sem piedade, se não estiveres vigilante. Mergulha mais fundo dentro de ti, para que sintas o quanto é importante que estabeleças ordem em tua casa interior. Esta resolução está em teu poder. Trabalha um pouco mais com a tua vontade e entrega o teu ser inteiramente a tua intuição, a tua intenção de crescer; de propiciar-te momentos de amor e compreensão. Sê paciente contigo mesmo e aceita este sentimento dentro de ti como se teu ser inteiro estivesse inspirando o perfume de uma flor. E, na realidade, estás sendo perfumado com as essências divinas que brotam da tua decisão de ser feliz.
(Estação da Paz)

A Pedagogia Espirita por Dora Incontri

A Pedagogia Espírita e a Evangelização

Dora Incontri

A Pedagogia Espírita tem alguma proposta para a evangelização? Como aplicá-la na prática? O que é preciso fazer?


Se a Pedagogia espírita é a aplicação do espiritismo na educação, obviamente que deve ter uma proposta para a área da evangelização infantil. Estudemos aqui alguns pontos importantes a respeito do tema.
Em primeiro lugar, propomos mudar o nome de evangelização para educação espírita ou espiritismo para crianças. A CNBB (Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros) está atualmente com uma campanha de “evangelização da juventude”. Não por acaso, os espíritas usam o mesmo termo que os católicos. Já analisamos diversas vezes (essa era também a postura de Herculano Pires e até antropólogos não-espíritas hoje fazem essa avaliação) que o movimento espírita no Brasil traz uma herança católica muito forte, dado o nosso caldo cultural impregnado de tradições da Igreja e pela formação jesuítica da nossa educação.
Essa herança se manifesta com toda a força no conceito e na prática da evangelização, que tem um caráter de catecismo, de doutrinação. Ou seja, prevê-se uma determinado conteúdo que é preciso introjetar na criança, moldando-lhe a cabecinha.
Essa é a metodologia da educação tradicional – justamente a que a Pedagogia espírita combate: focada no conteúdo e não no educando, com métodos maçantes e passivos, onde há alguém, dono de um conhecimento, que vai transmitir conceitos prontos ao aluno, que fica passivo. Ou o que é pior, alguém que nem o conhecimento tem e vai transmitir conceitos de uma apostila. O que Paulo Freire chamava de educação bancária, em que o professor deposita dados na cabeça do aluno.
Basta ter entendido minimamente a proposta da Pedagogia espírita para observar que a evangelização que é feita na maioria dos centros espíritas, no Brasil afora, segue o modelo católico de catequese e o modelo tradicional de educação.
O resultado prático desse modelo é que as crianças vão à evangelização obrigadas e depois de terem passado por evangelização, pré-mocidade, mocidade espírita, ao chegarem na universidade, muitas vezes, deixam de ser espíritas. Não criaram convicção, não aprenderam a pensar por si mesmas, a discutir, a argumentar. Foram doutrinadas, contra a vontade e o espiritismo tornou-se uma crença postiça, e quando defrontada por doutrinas materialistas ou nihilistas, desmorona… Além disso, a obrigatoriedade de ir a um centro espírita assistir a uma evangelização desinteressante faz do espiritismo um remédio amargo que a criança tem de engolir quando nova, mas quando puder, vai rejeitar em bloco tudo o que vem desta fonte.
Temos viajado pelo Brasil inteiro, conversado com pais, evangelizadores e, sobretudo, com crianças e adolescentes, e este é o quadro real da situação.
Outro aspecto negativo do termo evangelização é que ele ressalta apenas o aspecto religioso do espiritismo – aliás exatamente o que aconteceu com o movimento espírita brasileiro. Esquecemos inteiramente dos aspectos científico e filosófico e, sobretudo, pedagógico, do espiritismo, para reduzi-lo a mais uma religião.

Evangelização de crianças carentes

A questão se torna ainda mais grave quando os espíritas, em bairros de periferia, entre crianças carentes, fazem um trabalho de evangelização imposta. O que é isso? Em troca de pão ou presentes para as crianças, ou de cesta básica ou sopa para a família, os “assistidos” têm de presenciar palestras espíritas, tomar passes ou participar da evangelização. Isso é pura barganha e falta de respeito à religião alheia. Então, um evangélico, um católico, um ateu, em necessidade material, precisa se submeter a participar de algo em que não acredita (ou até contesta) para ser beneficiado? O pobre não tem direito de ter a sua religião?
É exatamente o que os jesuítas faziam em relação aos indígenas. Sem qualquer respeito ou consideração por suas crenças, impunham o catolicismo. É o que missionários de todas as denominações evangélicas fazem ainda. Os católicos hoje, pelo menos os mais progressistas, reavaliam esta atitude, fazendo uma crítica histórica da postura anterior e os espíritas adotam um procedimento semelhante ao passado católico, completamente contrário aos postulados de Kardec, que defendia sobretudo a liberdade de crença e de pensamento.
Qualquer trabalho social deve ser ecumênico e trabalhar valores éticos universais, que estejam em todas as religiões e doutrinas. Deve haver cuidadoso respeito às crenças alheias. O espiritismo pode ser apresentado, se houver interesse, mas sempre ao lado de outras doutrinas, na forma de estudo de religiões e filosofias, em debates abertos e participativos, seja com adultos ou crianças.


A educação focada no educando

Um dos aspectos principais da Pedagogia espírita (e não só desta Pedagogia, mas de seus precursores, Comenius, Rousseau, Pestalozzi e de suas pedagogias irmãs, como Montessori, Paulo Freire, construtivismo etc.) é a mudança de foco do conteúdo para o educando. O importante não é um conteúdo a ser passado, mas as potencialidades a serem desenvolvidas no educando. O conteúdo é um meio, não uma finalidade. A finalidade é sempre o ser humano, sua auto-construção, o despertar de sua consciência.
Para que o conteúdo seja um meio eficaz para despertar algo no indivíduo, é preciso que ele faça sentido para o educando, que lhe diga algo. Para isto, é preciso que responda a alguma questão sua, mexa com seus anseios, com as heranças do seu passado espiritual, parta de seus interesses e fale a sua linguagem. Ou seja, o conteúdo não pode ser previamente determinado para qualquer grupo, muito menos em currículos nacionais, em apostilas que devam ser seguidas como manuais.
Primeiro, devemos conhecer os educandos. Quem são eles? Que Espíritos que estão diante do educador? Que tendências trazem? Que interesse têm? Como despertar neles um elan de aprendizagem, uma busca por espiritualidade ou cultivar o que já apresentam neste sentido? O educador deve ser antes de tudo um observador atento dos alunos. Para isso, é preciso lucidez, sensibilidade, conhecimento do ser humano e, sobretudo, amor – que é a porta de abertura para o outro.
Então, poderemos fazer projetos de pesquisa, debates, estudos individuais e coletivos, encenações, produções artísticas, a partir de temas e questões propostas pelas crianças ou pelo educador, mas que os alunos aceitem e gostem e se interessem. O que é imposto não se engole. Portanto, cada educador, cada centro, cada local poderá fazer seu próprio plano de trabalho – com a ajuda e a participação das crianças.
Estaremos assim enxergando e respeitando o educando como um ser reencarnado, que já traz seus interesses, suas contribuições e não estaremos tratando a criança de forma paternalista e autoritária.
Livros, filmes, internet, poemas, peças de teatro, músicas, pinturas, tudo deve ser disponibilizado para educadores e educandos, como meios de pesquisa, produção, debate e aprendizado. E os educandos, por sua vez, também devem produzir, fazer, mostrar suas potencialidades através da ação.
Naturalmente, o argumento que se usa em toda a parte, como negação de uma metodologia mais livre, baseada no interesse da criança e na sua participação, é a falta de preparo dos evangelizadores. Ocorre que realmente um educador não se improvisa. Devemos preparar pessoas seguras e capacitadas para fazer isso. Caso contrário, estaremos trabalhando contra o próprio espiritismo, entregando as novas gerações a pessoas apenas de boa vontade, mas que não têm a mínima noção do que é educação, de como lidar com uma criança. Na cabeça dos educandos, o espiritismo ficará associado à incompetência dos evangelizadores (não dizemos educadores, porque o educador sabe o que faz). E assim como se criaram gerações inteiras revoltadas contra o Catolicismo, por causa da catequese e dos colégios católicos, formaremos gerações que repelem o espiritismo como algo dogmático.

Formação de grupos de estudos

Por esses motivos, temos incentivado no Brasil inteiro a formação de grupos de estudos da Pedagogia Espírita. Devem ser grupos livres, que podem reunir pessoas de diferentes instituições e até não espíritas, que podem ocorrer num centro espírita que ceda seu espaço ou podem ser feitos de forma itinerante (cada vez num centro) ou podem se dar na casa de alguém…
O importante é que esse grupo funcione dentro dos princípios da Pedagogia Espírita: sem hierarquias, com dinamismo, participação de todos, pesquisa, debates, leituras e a discussão de propostas práticas.
Esses grupos poderão produzir artigos, textos, material de aplicação prática, que sejam socializados com outros grupos no Brasil.

As crianças e a mediunidade

A fonte mais forte de convicção espírita é justamente a mediunidade. Porque sabemos (e não cremos) que somos imortais? Porque experimentamos o contato com o mundo espiritual, numa vivência individual e coletiva importante. Ora, cada vez mais os espíritas se vêem afastados da mediunidade, porque estão se criando verdadeiros tabus em relação à vivência mediúnica. Crianças, adolescentes e jovens jamais vêem reuniões mediúnicas. Para ser médium, a pessoa tem de fazer no mínimo 10 anos de curso. Ou seja, estamos tornando a mediunidade algo iniciático, bem ao contrário do que propunha Kardec, que a considerava algo natural, fazendo parte do cotidiano e podendo ser praticada por qualquer pessoa ou grupo, com o estudo atento, mas livre, de O Livro dos Médiuns.
O exílio da criança e do adolescente da mediunidade cria o mistério, o medo e, sobretudo, impede a convicção da imortalidade.
Segundo Kardec, a mediunidade deve ser estudada seriamente, praticada com finalidades úteis e éticas, mas é fenômeno natural. Crianças têm mediunidade espontânea e é claro – é uma questão de bom senso – que não vamos colocar crianças numa mesa mediúnica para receber obsessores, mas elas podem ver sim, se devidamente preparadas. E já os adolescentes, se maduros, vocacionados e estudiosos do espiritismo – como vemos muitos pelo Brasil Inteiro – poderão já trabalhar mediunicamente, como Ermance Dufaux, que iniciou aos 12 e aos 17 já era uma das colaboradoras principais de Kardec ou como as meninas Boudin, que receberam a maior parte de O Livro dos Espíritos, aos 14 e 16 anos.
A mediunidade surge, estoura, e então deve ser trabalhada, educada. Mas não se pode freá-la, sob pena de causar grande perturbação no médium.
A criança de família espírita deve ser aproximada suavemente, naturalmente, do fenômeno mediúnico, com todas as explicações e contextualização, para que ela cresça sabendo que o intercâmbio entre os dois mundos é algo corriqueiro e normal, sem terrores e mistérios.



BOX

Veja os objetivos que a educação espírita para crianças e adolescentes deve ter no centro espírita:
• Despertar o espírito crítico e a capacidade de pensar por si mesmo (para isso é preciso conhecer o espiritismo e outras religiões e doutrinas, pesquisando e debatendo);
• Sensibilizar esteticamente para harmonizar a alma e tocar o coração (para isso, é preciso usar todas as artes – a música, as artes plásticas, o teatro, a poesia, o cinema etc.);
• Formar a convicção da imortalidade (para isso, é preciso conhecer, estudar e ter contato com o fenômeno mediúnico);
• Despertar valores morais, formando o homem de bem (isso só se faz pelo contágio de bons exemplos – vivos ou de grandes personalidades, mas sobretudo pela prática, por isso a criança e o adolescente devem fazer parte das atividades solidárias do centro).


Para saber mais:
Entre no site da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita
www.pedagogiaespirita.org.br
Lá você também encontrará uma bibliografia básica para o estudo da Pedagogia Espírita.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PROGRAMA EDUCAÇÃO PARA TODOS

COM DORA ENCONTRI TODAS AS QUINTAS FEIRAS 14:30 PELA RADIO BOA NOVA QUE VOCE OUVE SEMPRE QUE VISITA O NOSSO BLOG
BOM DIA A TODOS
Quando a Prova nos alcance o círculo pessoal, recorramos à oração, entendendo que a oraçãonem sempre alterará os acontecimentos, em torno de nós,mas sempre nos renovará por dentro,iluminando-nos o coração a fim de que saibamos trilharo caminho seguro do nosso próprio aperfeiçoamento para a sublimação, ante as Leis de Deus.
Emmanuel ((Chico Xavier))

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A natureza humana - Dora Incontri

A NATUREZA HUMANA (2)
A individualidade

Se todo homem na Terra participa de uma natureza tríplice, animal, social e espiritual, existe uma gama infinita de manifestações que são próprias de cada individualidade. Do geral, portanto, passemos ao particular.O conceito de individualidade é talvez o mais importante para uma prática sensata da Educação. Aliás, quem compreende o que é o homem, em sua essência, respeitará o carácter de singularidade que cada ser humano possui.Analisemos assim três aspectos que caracterizam a individualidade:

 Seu grau evolutivo:
Em que ponto cada qual está na escala ascensional que separa a animalidade da angelitude. Não há duas pessoas que estejam exactamente no mesmo degrau de evolução espiritual. As individualidades que mais se afinam são as que estão mais equiparadas nesse sentido. Mas as variações são infinitas: algumas mal saíram do domínio dos instintos animais, tendo apenas começado seu desenvolvimento intelecto-moral; outras estão adiantadas em inteligência, mas revelam ainda grande indigência em moralidade; muitas possuem bons sentimentos, mas são deficitárias em seu desenvolvimento mental; raras, sobre a Terra, já estão no rumo da angelitude, tendo se libertado completamente do domínio dos instintos mais grosseiros e revelando equilíbrio entre sentimento e intelecto.

 Suas tendências inatas:
Todo Espírito que reencarna neste Mundo já viveu outras vidas e já desenvolveu certos aspectos de sua personalidade ou adquiriu certos vícios, pois o nosso planeta não é um planeta para onde venham almas novas, ainda em estágio absolutamente primitivo. Uma prova material disso é a inexistência do tão procurado “elo perdido” – a transição do animal para o homem. Assim, qualquer Espírito traz, em forma de tendências inatas, aquilo que conquistou anteriormente. Cada um viveu uma história única, com uma somatória de experiências pessoais, que podem ser semelhantes, mas nunca idênticas às de outro Espírito. Pode-se ancorar também aí a noção de singularidade.

 Sua tarefa nesta existência e sua missão no universo:
Todo o Espírito que reencarna vem à Terra com o propósito geral de evoluir, mas com um propósito específico, familiar, profissional, pessoal, em que deve exercer uma tarefa, uma vocação, tendo a liberdade de cumpri-la ou não. E como Espíritos eternos, todos terão um papel a exercer no universo. Quando atingimos a condição de angelitude, nossa individualidade será ainda e sempre singular, cabendo-nos uma missão de acordo com nossas aptidões de sabedoria e de amor.Materialistas defendem em sentido erróneo o princípio da individualidade pois lhes falta a compreensão de que a singularidade humana não reside na sua carga genética ou na combinação de influências recebidas no transcurso de uma só existência.O princípio da individualidade não está radicado em nossa parte animal, pois nada mais igual em todos os seres irracionais ou racionais do que a acção instintiva. O instinto é cego, não implica em liberdade de escolha, em julgamento moral e é sempre idêntico em suas manifestações, em qualquer meio cultural que apareça. Enganam-se, portanto, aqueles que pregam o livre desenvolvimento da individualidade como obediência cega à nossa parte instintiva – o impulso sexual, o instinto de sobrevivência, o prazer sensorial, o instinto de posse e domínio.Também não se radica em nossa sociabilidade terrena, regulada por leis, por associações políticas, por regras, exteriores ao indivíduo.É preciso buscar no espírito um quid. É aí que está tudo o que caracteriza a singularidade humana; é esse princípio que sobrevive à matéria e está sujeito à lei da evolução e que deve atingir a perfeição. Aliás, é o carácter individual do Espírito reencarnante, que vai interagir com a lei da hereditariedade. A margem de casualidade que a Ciência vê na selecção dos genes, na hora da concepção, é influenciada pela carga cármica, pelas necessidades evolutivas e pela própria vontade da alma que volta ou, ainda, pela direcção dos seus Espíritos protectores. (…) Prof. Dr.ª. Dora Incontri(Consultora Pedagógica; Professora; Jornalista; Escritora; Conferencista – Brasil: 1962)fonte: Educação Segundo o Espiritismo, in Info-Espírita

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM MESTRE DE QUEM?
http://www.ipece.org/artigos.htm#
Dora Incontri
(Doutora em educação pela USP, coordenadorada Associação Brasileira de Pedagogia Espírita) (E-mails: editoracomenius@uol.com.brpedagogiaespirita@uol.com.br )
A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas idéias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de feitio a desprezar ninguém. Escrevia cartas afetuosas a crianças, adolescentes, jovens; a pessoas das mais diversas categorias sociais. Como não escreveria nada a um discípulo tão precoce que, já aos 19 anos, publicava obras didáticas em Paris, assinando-se seu discípulo? Entretanto, não há vestígio de nenhuma correspondência, apenas breve menção numa carta, quando Rivail ainda era criança, à “boa Mme Rivail”.
A hipótese dessa ausência é justamente a do silenciamento propositado. Pude constatar pessoalmente, em contato com os mais diversos pesquisadores e especialistas pestalozzianos na Europa, o quanto se revelam incomodados pelo fato de Pestalozzi ter gerado um discípulo tão inconveniente e como se adiantam em avisar que o mestre nada teve a ver com o espiritismo. Daí a ignorarem alguma correspondência entre mestre e discípulo e omitirem a publicação dos manuscritos – vai apenas um passo.
Outro mistério que envolve a relação de Pestalozzi, agora com Kardec, é o fato de não haver uma única mensagem assinada por ele, em toda a codificação. Há comunicações de todos os precursores imediatos da idéia espírita: Swedenborg, Mesmer, Lavater – que por sinal, era amigo e companheiro de lutas de Pestalozzi – e tantos outros. Há mensagem inclusive de Roussseau na Revista Espírita (e este havia sido o mestre de Pestalozzi). Por que então ele próprio não se manifestou? Ou será que se manifestou e Kardec não publicou? Parece-me aí (o que também não passa de uma hipótese), que Kardec quis separar muito bem a sua vida espírita da sua vida de educador – pois que até adotou um pseudônimo. Pode ser que não tenha querido se prevalecer da fama que tinha o nome Rivail e de sua ligação com Pestalozzi, para defender uma idéia controvertida. Ou ainda, pode não ter querido atingir as crianças e adolescentes que estudavam com seus livros didáticos, com uma polêmica em torno de uma idéia revolucionária.
Seja como for, é fato que o menino Rivail chegou aos 11 anos ao Instituto de Iverdon, levado pela mãe, para estudar com Pestalozzi. Aos 19 anos já estava em Paris, publicando obras, para aplicar o método pestalozziano na França, e durante 30 anos se dedicou à educação, dando aulas, dirigindo institutos, escrevendo obras didáticas e textos com propostas de vanguarda.
Personalidades diferentes
A comprovação histórica da filiação de Rivail a Pestalozzi, como discípulo e continuador de suas idéias na área da educação, permite-nos portanto estabelecer comparações entre os dois grandes mestres e analisar a influência que o segundo exerceu sobre o primeiro.
Interessante notar que eram personalidades muito diferentes, embora com idéias muito próximas. Pestalozzi era eminentemente intuitivo, emotivo, apaixonado. Abria-se publicamente, confessando seus sentimentos, seus conflitos, narrando fatos de sua vida pessoal. Conhecemos assim todos os detalhes de sua biografia, todos os problemas que enfrentou, todas as reações que teve. Ao contrário, Kardec era a discrição em pessoa, falava pouquíssimo de si mesmo. Era grave, calmo. Afável sim, sem essa sisudez cinzenta que às vezes querem ver em sua personalidade, mas sem expansões muito ostentivas. Contava Leymarie que ele “se distraía a contar anedotas de alto nível, às quais não faltavam ditos gauleses. Aos domingos, sobretudo nos últimos dias de sua vida, convidava amigos para jantar em sua Villa Ségur”. (AUDI, 2004:88) Portanto, a sua contenção não era frieza e sua gravidade não era humor sombrio.
Outra diferença marcante entre ambos está relacionada à linguagem. Pestalozzi escrevia aos borbotões, num estilo às vezes confuso, sem muita precisão nos conceitos. É certo que a língua alemã favorece os períodos longos, arrevezados. Mas é notório que o mestre suíço era verborrágico. Basta ver que sua obra completa soma 40 volumes, cada um deles com 300, 400 e até 500 páginas, contendo vários títulos. Também é preciso dizer que escreveu de tudo: obras filosóficas, políticas, literárias, pedagógicas – e até um tratado que é considerado um dos primeiros livros de sociologia da juventude ( Legislação e Infanticídio ).
Mas uma das preocupações mais fortes da pedagogia pestalozziana (preocupação idêntica à do educador checo, hussita, Jan Amos Comenius, um século e meio antes), era a de favorecer na criança a posse da linguagem dentro de parâmetros de precisão e objetividade. Achavam tanto Comenius quanto Pestalozzi que era necessário impedir que o aluno falasse demais e falasse do que não soubesse, que papagueasse um palavrório que não tivesse sentido para ele. Tratava-se de garantir que tudo o que passase ao domínio da linguagem fosse antes sentido, percebido, observado, experimentado. Por isso, para Pestalozzi, o amor entre educador e educando e a educação ativa, em que a criança aprende fazendo, devem preceder a racionalização de conceitos e a sua verbalização. Do mesmo modo para Comenius, deve-se aprender os fundamentos e as finalidades de todas as coisas, também através de uma educação ativa, antes de sobrecarregar a memória de palavras vazias.
Portanto, justamente o que Pestalozzi não tinha, mas pretendia semear em seus educandos, que era uma linguagem clara, objetiva, racional e precisa, tornou-se característica marcante na personalidade de Rivail, que já aos 24 anos, quando escreve seu Plano de Melhoria do Ensino Público , revela um estilo seguro, claro, elegante, com rara firmeza e objetividade na defesa de suas idéias.

Missionários da educação
O que aproxima principalmente Pestalozzi e Kardec é a sua crença de que a educação seja a grande resposta para os problemas essenciais da humanidade. Impasses morais, econômicos, políticos só podem ser soloucionados por uma educação integral, que atinja todas as pessoas. Resumindo com as palavras de Comenius: ensinar tudo a todos é a única via de realizar a felicidade humana aqui e na eternidade.
Coerentes com essa idéia, ambos se dedicaram de corpo e alma à obra da educação humana. Pestalozzi, sabemos, não teve outra atividade, outro ideal, outra paixão na vida que a educação. E num dos raros momentos em que Rivail falou de si mesmo foi para dizer que: “… a educação é a obra da minha vida, e todos os meus instantes são empregados em meditar sobre essa matéria; feliz quando encontro algum meio novo de descobrir novas verdades.(…) não faltarei à minha missão, pois penso compreendê-la. Inimigo de todo charlatanismo, não tenho o tolo orgulho de acreditar cumpri-la com perfeição, mas tenho ao menos a convicção de cumpri-la com consciência.” (RIVAIL, 2000: 78 e 92)
Que educação propunham eles? Pode-se dizer que Rivail, como discípulo de Pestalozzi, não acrescentou nada à proposta do mestre, apenas desenvolveu-a e aplicou-a na prática. Apenas com Kardec, na formulação da doutrina espírita, a pedagogia pestalozziana alcança um salto qualitativo, porque a idéia de que a criança é um ser reencarnado aclara e torna muito mais abrangentes os princípios pedagógicos defendidos por Pestalozzi e Rivail. Resumamos alguns desses princípios:
Tanto Pestalozzi quanto Rivail (e também o antecessor de ambos, o grande Comenius) pregavam a educação como desenvolvimento harmônico de todas as potencialidades do ser. Pestalozzi, com seu estilo mais metafórico, resume essas potencialidades na tríade cabeça, mãos e coração e Rivail, com sua linguagem menos poética e mais precisa, as define como faculdades intelectuais, físicas e morais. Esse processo de desenvolvimento não é, porém, uma internalização de informações, padrões de comportamento, conceitos morais – mas um despertar, um desabrochar de algo que já está latente no ser. Rivail apontou isso como “desenvolvimento dos germes das virtudes” (RIVAIL, 2000:8) e Pestalozzi explicou da seguinte maneira:
“A meta para o qual o método [criado por Pestalozzi] tende constantemente e em todas as coisas, é de atingir, vivificar e fortificar o que há de verdadeiramente humano, espiritual e moral na criança. Em outros termos, ele considera e trata a criança, desde o primeiro momento, como uma natureza humana, espiritual e moral e reconhece nele principalmente esta existência e esta atividade. O fundamento de sua confiança na criança é a primeira revelação divina a respeito do homem, que é na realidade uma imagem de Deus. Longe de considerá-la como uma tabula rasa, sobre a qual é preciso escrever, como um vaso vazio que deve ser preenchido, ela o vê ao contrário como uma força real, viva, ativa por si mesma, que desde o primeiro momento de sua existência, opera, organizando, como um corpo orgânico sobre seu próprio desenvolvimento e extensão…(…) A natureza externa, os cuidados maternos, o entorno doméstico despertam e determinam, regulam e dirigem entretanto, por sua influência, a atividade dessa força, mas eles nada podem sobre a sua natureza.” (PESTALOZZI, vol.28:298)
Assim, é a partir de uma confiança básica no ser humano e, portanto, com uma grande dose de liberdade, que se constrói a pedagogia pestalozziana, que obviamente fundamenta a pedagogia espírita. Com o acréscimo de que, em Kardec, essa confiança no ser humano se amplia ao infinito, já que todas as criaturas se realizarão como deuses, anjos ou Espíritos puros e o processo educacional de desenvolvimento dos germes divinos da alma transcende esta vida terrena, para projetar-se nas múltiplas existências, que são estágios educacionais do espírito.
A confiança na capacidade de auto-gestão do ser humano, de sua autonomia para se auto-construir, aprendendo inclusive com os próprios erros, é fundamental na compreensão e na prática do próprio espiritismo. Por exemplo, Kardec democratizou o conhecimento espiritual, tornou acessível e simples a qualquer pessoa, o desenvolvimento da potencialidade mediúnica (que em toda a história humana, havia sido fruto de processos iniciáticos, cobertos de mistérios e inacessíveis à massa), traduziu de forma didática, clara e sintética os grandes ensinamentos morais e espirituais – que estiverem presentes nas religiões de todos os tempos, mas que também ficaram nas mãos de alguns poucos – com o objetivo de tornar possível o exercício da espiritualidade de forma livre, destituída de intermediários hierárquicos e institucionais.
Toda a doutrina espírita está impregnada de fortes idéias de otimismo em relação ao ser humano e de liberdade e autonomia de consciência. Esta é claramente uma herança pedagógica que remonta a Comenius, Rousseau e foi entregue a Rivail pelas mãos de Pestalozzi, mas que na verdade, tem uma origem única na pedagogia de Jesus, pois foi ele quem disse: “vós sois deuses”; “o Reino de Deus está dentro de vós”, “podeis fazer tudo o que eu faço e mais um pouco”… Com Kardec essa herança se ilumina, pela perspectiva da reencarnação. Dilatam-se o tempo e o espaço da educação – não apenas uma só vida, não apenas um só cenário – mas várias oportunidades, em diferentes moradas celestes, já anunciadas por Jesus.
Pestalozzi, como precursor
Numa carta ao amigo Nicolovius, ministro de Estado da Prússia, datada de 1793, Pestalozzi parafraseia João Batista:
“Às vezes me parece que minha voz é como a voz que clama no deserto para preparar o caminho de alguém que virá depois de mim. É como se muitas vezes eu mesmo não soubesse o que estou fazendo e para onde estou indo.”
Em sua intuição, Pestalozzi previa a vinda de um grande Espírito, que abriria novos rumos à evolução humana.
Pode-se entender este papel precursor de Pestalozzi em vários sentidos. Em primeiro lugar, na função que teve de educar o menino Rivail, dentro dos princípios de liberdade de consciência, de universalismo, de pedagogia livre, ativa e amorosa, que marcou determinantemente a vocação pedagógica do discípulo. Entenda-se que, embora o Espírito iluminado que vem ao mundo em missão já traga sua bagagem de outras experiências, a influência que recebe na existência presente pode determinar quais das heranças passadas virão à tona. O estímulo da educação do presente ajuda no despertar harmonioso das tendências positivas do passado. Por isso, se Kardec, que, segundo informação vista por Canuto de Abreu em sua biblioteca no início do século XX, fora antes Jan Huss, o grande reformador morto na fogueira em 1415, trazia ele do passado a vocação de educador – Huss havia sido reitor da Universidade de Praga – o estilo claro e objetivo e o interesse pela linguagem (tanto Huss quanto Kardec foram autores de gramáticas). A educação no Instituto de Yverdon de Pestalozzi naturalmente reforçou estes impulsos.
Em segundo lugar, Kardec propõe com a doutrina espírita uma continuidade das idéias que vinham sendo trabalhadas desde Comenius, passando por Rousseau e chegando em Pestalozzi. A primeira delas está relacionada com a visão otimista do ser humano, que rompe com a ortodoxia cristã do pecado original. Comenius já dava menor ênfase a este aspecto da doutrina cristã e Rousseau e Pestalozzi rompem definitivamente com esse dogma, proclamando a herança divina na criatura e o mal como resultado da liberdade humana.
A segunda, intimamente ligada a esta, está na idéia da religião. Já Rousseau e depois Pestalozzi vinham trabalhando um conceito de religião natural e resgate do cristianismo essencial, ou seja, de uma religiosidade livre, de ligação direta do homem com a divindade, dispensando sacerdócios, igrejas, hierarquias e intermediações e a interpretação da mensagem de Jesus, como proposta educacional para a humanidade e não como proposta salvacionista. É óbvio que esse trilho aberto por ambos desemboca necessariamente no Espiritismo, que realinha o cristianismo com a mensagem de Jesus e inaugura uma nova forma de religiosidade: livre, direta, universal. A terceira, que decorre da segunda idéia, está ligada ao plano de mudança social. Tanto Comenius, como Rousseau e Pestalozzi, preocupados igualmente com o estabelecimento de uma sociedade mais justa na terra (ou seja, o aspecto espiritualista do pensamento desses autores não os tornava alienados socialmente), vêem na educação a melhor estratégia de reforma da sociedade. Nem revolução armada, nem apenas mudanças na estrutura econômica, trata-se de formar um novo homem, para fundar uma nova sociedade. Mas, como avisa Herculano Pires, que compreendia o Espiritismo de forma dialética (e com isso se inseria na melhor tradição desses grandes pedagogos, que também entendiam assim), não basta apenas mudar o indivíduo: “Transformar o mundo pela transformação do homem e transformar o homem pela transformação do mundo. Eis a dialética do Reino, que o cristão deve seguir.” (PIRES, 1967:136)
EURIPEDES BARASANULFO UM DOS PRECURSORES DA PEDAGOGIA ESPIRITA
Além de sua mediunidade de cura e fenômenos físicos, a grande vocação para a educação o incentivou a pensar em um modelo inovador de ensino.Érika SilveiraDescrever, em poucas linhas, o papel desempenhado pelo médium Eurípedes Barsanulfo dentro da doutrina espírita não é uma tarefa simples, uma vez que, em seus 38 anos de vida terrena, realizou obras que muitos talvez não conseguiriam nem com o dobro de tempo. A trajetória de vida deste espírito missionário começou na pequena cidade de Sacramento (MG) em 01 de maio de 1880, data em que se comemora o Dia do Trabalho, nada mais justo para uma pessoa que ajudou ao próximo incansavelmente e inseriu um novo modelo de pedagogia no Brasil.A vocação para o ensino se manifestou precocemente, ensinando seus próprios irmãos e colegas de escola. Participou da fundação do Liceu Sacramentano, um instituto de ensino primário e secundário, em 1902, bem como do jornal Gazeta de Sacramento, onde escreveu colunas semanais sobre política, direito público e métodos educacionais, entre outros temas, durante dois anos. Apesar de não possuir diploma de curso superior, Barsanulfo dominava diversos assuntos, como filosofia, direito e medicina. Aliás, cursar a faculdade e se formar médico era seu grande sonho, mas por causa dos problemas de saúde de sua mãe, preferiu permanecer ao seu lado em casa.A RELAÇÃO COM O ESPIRITISMOEurípedes Barsanulfo sentiu uma certa resistência para aceitar de imediato o Espiritismo, em virtude da forte formação católica recebida de seus pais, Hermógenes Ernesto de Araújo e Jerônima Pereira de Almeida. Porém o primeiro contato com a doutrina foi através de seu tio, Sinhô Mariano, que fundou e dirigiu o Centro Espírita Fé e Amor, um dos mais antigos e conhecidos do povoado.Em certa ocasião, o tio entregou para Barsanulfo um exemplar da obra de Leon Denis, rapidamente lido por ele. Impressionado, resolveu ir ate o centro e, lá chegando, encontrou o humilde médium de nome Aristides sentado à mesa. Colocando à prova a comunicação de espíritos com os encarnados, pediu, em pensamento, esclarecimentos a respeito do Sermão do Monte por meio do médium, já que não tinha sido totalmente instruído pelo padre da igreja que freqüentava. Barsanulfo prontamente recebeu uma detalhada explicação sobre o tema pedido e, a partir de então, converteu-se ao Espiritismo.Em 27 de janeiro de 1905, fundou o Grupo Espírita Esperança e Caridade em sua residência, local em que já realizava o chamado “Culto Cristão” (a leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo a partir das 9h) desde o ano anterior. Foi ali que Eurípedes Barsanulfo promoveu encontros memoráveis e sua mediunidade sonambúlica e de efeitos físicos se manifestou claramente.Porém, sua grande vocação era a educação, pois sabia que, através dela, poderia incutir os valores morais que julgava ser de extrema valia na consciência e nos corações das crianças. Assim, em 02 de abril de 1907, Barsanulfo inaugurou o Colégio Allan Kardec, primeiro colégio espírita do Brasil, que foi administrado por ele até seu desencarne. Nele, educou um grande número de pobres e órfãos, mas, principalmente, implantou uma nova metodologia educacional, oferecendo instrução intelectual e moral. Todas as quartas-feiras, ministrava aulas a respeito da doutrina espírita, incompreendida e desdenhada por muitos pais de alunos. Inclusive, alguns deles chegaram a retirar seus filhos da escola na época.FENÔMENOS FÍSICOS E DE CURAOutro ponto que marcou a vida de Eurípedes Barsanulfo foi o seu grande potencial mediúnico, desenvolvendo diversos tipos de mediunidade, como a de cura, audição, vidência, psicografia, intuição e bicorporeidade, ou seja, a faculdade de desdobramento, quando um médium surge em um determinado local enquanto seu corpo permanece em outro. Fatos do gênero aconteceram diversas vezes, como na ocasião em que entrou em transe e chegou a descrever detalhadamente, para seus alunos, o local, o horário e os participantes de uma reunião que havia acabado de assistir na cidade de Versalhes, na França, local em que foi assinado um histórico tratado.A constante produção de fenômenos mediúnicos atraiu uma multidão para a pequena cidade de Sacramento, na qual Barsanulfo promoveu diversas curas sem jamais cobrar por isso, recuperando doentes desenganados pela medicina com o auxílio constante da equipe espiritual comandada pelo dr. Bezerra de Menezes. Inclusive, por orientação do chamado “médico dos pobres”, criou a Farmácia Espírita Esperança e Caridade, que funcionava ao lado de seu quarto. Impregnada por um suave perfume de jasmim, a farmácia servia de base para as atuações do dr. Bezerra por meio da mediunidade de Eurípedes, atendendo os necessitados com orientações, receitas médicas e cirurgias espirituais.CORAGEM E AMOR PELA DOUTRINAEntretanto, como não poderia deixar de acontecer, tendo em vista a época e o porte da cidade de Sacramento, Eurípedes Barsanulfo sofreu muitas perseguições e acusações, passando firme por momentos bastante difíceis. Um desses casos ocorreu em 1913, quando um padre de Campinas, Feliciano Lague, atendeu o chamado de religiosos da cidade mineira e tentou anular a influência do médium, bem como o prestígio do Colégio Allan Kardec. Depois de algumas investidas, Barsanulfo propôs um debate público com o padre. “No dia marcado, a praça da matriz estava repleta de sacramentanos e espíritas das cidades vizinhas, desejosos de assistir ao confronto que prometia ser memorável. E foi. Todos os argumentos do padre Iague objetivavam desmoralizar Eurípedes e o Espiritismo. Caíram por terra, um a um, graças ao raciocínio lógico, tranqüilo, consistente e pleno das palavras de Jesus por parte de Eurípedes. Ele foi vitorioso e precisou conter os entusiasmados espíritas, que desejavam carregá-lo em triunfo”, descreve Lauret Godoy em seu livro Maravilhosos Encontros com Eurípedes Barsanulfo. O fato só serviu para reforçar ainda mais a posição da doutrina espírita e o trabalho educacional promovido pelo médium.Eurípedes Barsanulfo passou muitos e muitos anos se dedicando ao próximo e ao bem comum, tarefa que só se encerrou com seu desencarne, ocorrido em 01 de novembro de 1918, vítima de uma epidemia de gripe que assolou o Brasil naquele ano. Mesmo depois de 85 anos de sua partida para o plano espiritual, ele é lembrado com imenso carinho por todo o movimento espírita, sobretudo na cidade de Sacramento, local que, ainda hoje, recebe constantes visitas de caravanas formadas por pessoas que desejam ver de perto a obra de amor deixada por ele e continuada por sua sobrinha, Heigorina da Cunha. Entre os pontos mais visitados por elas, estão a gruta na qual ele realizou boa parte das curas, o busto que foi feito em sua homenagem, o Colégio Allan Kardec, entre outros. Não se pode deixar também de citar a referência feita pelos visitantes de que a cidade mineira possui uma atmosfera bastante especial, o que não poderia ser diferente, tendo em vista a grandeza espiritual desse missionário que se tornou o precursor da pedagogia espírita no Brasil.PALAVRAS DE UMA EDUCADORA ESPÍRITA SOBRE EURÍPEDES BARSANULFOA educadora Dora Incontri descobriu sua vocação para a pedagogia quando ainda cursava jornalismo na Fundação Cásper Líbero, época em que lançou seu primeiro livr. Educação na Nova Era, ponto de partida para sua carreira. A partir de então, passou a se dedicar integralmente ao tema, escrevendo para diversos jornais, fazendo mestrado, doutorado e pós-doutorado em educação.Nascida em berço espírita, Dora Incontri afirma ter recebido uma grande influencia para a pedagogia tanta da família como o prof. J. Herculano Pires, amigo de seus pais durante muitos anos. Outro grande modelo que inspirou a educadora foi Eurípedes Barsanulfo, tanto que o escolheu para ser um dos focos de sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Nesta entrevista, ela fala um pouco mais sobre essa escolha, a personalidade de Barsanulfo e a idéia de uma escola espírita.Por que a escolha de Eurípedes Barsanulfo para ser um dos focos de sua tese de doutorado?Dora Incontri – Porque, com a criação do Colégio Allan Kardec, ele inseriu um novo modelo de educação. Em minha tese, analisei as heranças de Sócrates e Platão, passando por educadores como Comenius e Pestalozzi até chegar em Kardec, mostrando, depois, como a pedagogia espírita foi se desenvolvendo no Brasil através de seu primeiro grande educador espírita, que foi Eurípedes Barsanulfo. Considero-o realmente o fundador da pedagogia espírita no país, o primeiro a fazer uma escola espírita revolucionária, que nada tinha a ver com o sistema tradicional da época. Ele implantou uma metodologia sem notas, castigos ou recompensas, era uma educação ativa, com a participação dos alunos, algo totalmente diferenciado.Quais foram suas fontes de pesquisa?Dora Incontri – Além da literatura existente, entrevistei Thomaz Novelino, falecido em 2000, aos 99 anos de idade. Ele foi aluno de Eurípedes, conviveu com ele e fundou o Educandário Pestalozzi, na cidade de Franca (SP), inspirado em seu trabalho.Como ele descreveu a personalidade de Eurípedes?Dora Incontri – De acordo com seu testemunho e de outras pessoas com quem conversei em Sacramento, Eurípedes era uma pessoa muito séria, bondosa, amorosa, serena, uma criatura bastante equilibrada. Enquanto outras escolas utilizavam castigos como forma de punição dos alunos, ele nem sequer alterava a voz. Atualmente, não há, dentro ou fora do movimento espírita, qualquer proposta de escola que se assemelhe com a que ele fez, com originalidade, liberdade, amor e participação dos alunos.Há um projeto para criar uma escola nesses moldes?Dora Incontri – Meu projeto de vida é fazer mais do que uma escola, é construir uma colônia educacional. Por enquanto, está no papel, mas tudo foi planejado. Primeiro, queria defender uma tese para solidificar a idéia da pedagogia espírita na universidade e, depois, criar uma massa crítica que se ligasse com a proposta, pois uma das grandes dificuldades em todas as experiências, inclusive na de Eurípedes, é a falta de pessoas que as entendam. Falar em escola espírita não significa um lugar de doutrinação, mas que tem uma visão diferente da educação, baseada em três princípios: a pedagogia do amor, da liberdade e da ação.TESE DE MESTRADOFormado em pedagogia, Alessandra César Bighito escolheu Eurípedes Barsanulfo, para ser tema principal de sua tese de mestrado na Universidade de Campinas (Unicamp). Segundo ele, o motivo foi a originalidade e a brilhante proposta de educação dentro do Espiritismo sugeridas pelo médium. Nesta entrevista, Bighito fala mais sobre esse trabalho de pesquisa.Quais foram os principais pontos abordados? Alessandro César Bighito - Na história da educação brasileira, temos uma forte influência católica, principalmente em Minas Gerais, e o interessante na proposta de Eurípedes foi ter aberto uma escola completamente oposta aos padrões da época, abolindo castigos, fortalecendo a relação de amizade entre professores e alunos e desenvolvendo um processo de educação ativa. Também ao contrário das escolas extremamente elitistas, o Colégio Allan Kardec era gratuito, formado por classes mistas, tudo muito original para aquele tempo.Quais foram suas fontes para realizar essa pesquisa? Alessandro César Bighito - Os dados históricos da primeira república, época na qual Eurípedes esta contextualizado, eu pesquisei em documentos, fotos e jornais, além de uma entrevista realizada pela Dora Incontri com Thomaz Novelino e alguns depoimentos de outros alunos, inclusive com um que está atualmente com 110 anos de idade e mora em Uberlândia (MG). Tive acesso também às atas do período em que Eurípedes foi vereador em Sacramento.Quando visitou Sacramento, o que você sentiu em relação a Eurípedes Barsanulfo?Alessandro César Bighito - Embora tenha desencarnado há muito tempo, sua presença ainda é muito viva no local. Por sua bondade e afeto, ele fez uma ação muito poderosa no lugar. Agora, o referencial pedagógico implantado por Eurípedes não existe mais no atual Colégio Allan Kardec, perdeu-se com a nova direção. Porém, entendo que a presença de um espírito evoluído como Eurípedes Barsanulfo deixou sementes pedagógicas que germinarão algum dia.Notas: (Extraído da revista Cristã de Espiritismo 20, páginas 36-39)
A PEDAGOGIA ESPÍRITA
A pedagogia Espírita, se vamos utilizar o termo Espírita, é aquela que reconhece a criança, o jovem, o adulto e todos nós como Espíritos imortais, filhos de Deus, dotados do "germe da perfeição", em constante processo evolutivo através das vidas sucessivas. É, pois, um Espírito reencarnado, dotado de uma bagagem milenar de experiências vividas em outras existências e que renasce para evoluir e desenvolver seu potencial interior, rumo à perfeição.
Mas não é só isso. É também aquela que revela ao educando a sua verdadeira natureza espiritual, a essência Divina que lhe vibra no íntimo da alma. É aquela que propicia ao Educando o "conhecimento de si mesmo" através da verdade Universal revelada através da Doutrina Espírita. Por isso, o conteúdo libertador da Doutrina Espírita deve fazer parte integrante do currículo de qualquer Instituição Espírita, não apenas como teoria a ser estudada, mas como verdade a ser vivenciada.
"Conhecereis a Verdade e a verdade vos libertará"
"Aquele que ouve as minhas palavras e as pratica..."
As palavras de Jesus nos mostram o roteiro seguro da evolução: conhecer a verdade e praticar o seu Evangelho, hoje renascido e ampliado nos postulados da Doutrina Espírita.
"Espíritas, amai-vos e instruí-vos"
O Espírito de Verdade, nos mostra o roteiro seguro do amor e da sabedoria.
A vivência do amor liberta o homem do egoísmo e da vaidade e verdade sobre nossa natureza espiritual liberta o homem do preconceito e do fanatismo propiciando o desenvolvimento da essência Divina que germina no coração de cada ser.
Por isso a Pedagogia Espírita é a ciência e a arte da educação, o processo através do qual se desenvolve o "germe da perfeição" no íntimo de cada um, Espíritos imortais que somos, filhos e herdeiros de Deus. É o desenvolvimento gradual e progressivo das potências da alma, através do exercício do amor e do "conhecimento de si mesmo" que faz germinar essa essência Divina e dar os frutos do amor e da sabedoria.
É o retorno do amor e da verdade Universal ao cenário pedagógico da humanidade através da coragem de expressar essa verdade sem preconceitos, sem meias verdade, como o fez Eurípedes Barsanulfo. A vivência do amor e conhecimento da verdade universal são indispensáveis ao conhecimento de si mesmo, e portanto, ao desenvolvimento das qualidades interiores da alma, das potência do Espírito.
Por isso, a Pedagogia Espírita esta presente na mente e nos corações dos educadores que enfrentam todos os preconceitos por amor à verdade, independentemente de possuir ou não o título de professor, mestre ou doutor.
Esta presente nos jovens e adultos que labutam na evangelização infanto-juvenil, que palestram nas casas Espíritas, que participam nos grupos de estudos, nas atividades assistenciais exercitando e exemplificando o amor ao próximo.
Esta presente no jovem que atua no teatro, que canta e dança fazendo da arte sublime escada de elevação do Espírito
A Casa Espírita representa hoje a Escola Espírita em toda a sua simplicidade, beleza e dinamismo espiritual, vivendo o amor e iluminando o coração e a mente das crianças, dos jovens, dos adultos e mesmo do Espírito desencarnado, pois somos todos, em essência, Espíritos em evolução.
Não podemos falar em educação, em seu profundo significado, sem o exercício do amor e sem o conhecimento de si mesmo, ou seja, sem que o educando se reconheça como Espírito imortal, filho de Deus, dotado do germe da perfeição, sujeito às leis de causa e efeito e, portanto, responsável pelos seus pensamentos e atos, a nascer e renascer num aperfeiçoamento gradual, mas contínuo, rumo à perfeição.
Da mesma forma, não existe escola espírita se não incluir em seu currículo esse conhecimento libertador da verdade espiritual de nossas vidas, dessa verdade Universal contida na Doutrina Espírita, como o fez Eurípedes Barsanulfo.
Auxiliar o Espírito com a verdade absoluta de nossa existência espiritual é nossa tarefa prioritária.
É nosso compromisso com Jesus, com Kardec, com Eurípedes e com a nossa própria consciência.
Walter Oliveira Alves
Quem Ama Quem ama nada exige. Perdoa sem traçar condições. Sabe sacrificar-se pela felicidade alheia. Renuncia com alegria ao que mais deseja. Não espera reconhecimento. Serve sem cansaço. Apaga-te para que outros brilhem. Silencia as aflições, ocultando as próprias lágrimas. Retribui o mal com o bem. É sempre o mesmo em qualquer situação. Vive para ser útil aos semelhantes. Agradece a cruz que leva sobre os ombros. Fala esclarecendo e ouve compreendendo. Crê na Verdade e procura ser justo. Quem ama, qual o samaritano anônimo da parábola do Mestre, levanta os caídos da estrada, balsamiza-lhes as chagas, abraça-os fraternalmente e segue adiante...
(Alexandre de Jesus) Chico Xavier
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